sexta-feira, 22 de junho de 2007

A Criação para Ovídio e Pitágoras

É interessante notar como Ovídio é um tanto desprezado pela modernidade. Geralmente, aclamado com um poeta de variedades, um mero libertino extremamente culto, é colocado num posição menor face a Homero, Hesíodo e a Virgílio. Sua grande obra "Metamorfoses" é praticamente lida como uma espécie de compêndio de "lindas estórias" da mitologia grega com a advertência de que ele não é "respeitoso" para com os "deuses".

Que mundo caralola! Ovídio é justamente um dos poetas mais fascinantes do mundo antigo pela característica esotérica dos seus textos! Tome-se "Metamorfoses" como exemplo. O livro é dedicado a Pitágoras e segue-lhe os ensinamentos, contendo até mesmo uma louvação pessoal ao filósofo que "ensinou aos homens que a alma é imortal e habita ora um corpo, ora outro".

Até mesmo a teogônia que Ovídio apresenta, considerada inferior à de Hesíodo ou uma cópia de algum texto oriental, está, contudo, totalmente mergulhada no esoterismo de Pitágoras.

Vejamos, para este, o símbolo da divindade é o Pentagrama ou o Pentágono. Os quadros ângulos inferiores representam os quatro elementos: água, ar, terra e fogo. O ângulo superior indica Deus ou a Alma humana. Tanto a criação como o ser vivo são explicados como a combinação dos quatro elementos em medidas variadas mas ordenados pela Idéia Divina, o ângulo superior do pentagrama.

Ora, é essa representação que Ovídio nos oferece da criação. Um Deus, um Ser superior, ordena os quatro elementos a partir do seu Caos inicial.

"Antes de existir o oceano, a terra e o céu, a Natureza era toda igual, um disforme Caos, constituído de matéria grosseira. [...] Até que deus, ou uma ser de mais alta natureza, arrumou tudo. [...] A força do fogo, esse elemento sem peso, reclamou o posto mais elevado no céu. Debaixo dele o ar, e sob os dois a terra, socada em porções maciças. A água, colocada mais abaixo de todos, cobriu e preencheu a terra" ( Metamorfoses I, I ).

Portanto, deve-se ter um certo cuidado quando se ler Ovídio. Ele celebra tanto a arte de amar quanto se preocupa com a imortalidade da alma e a criação do universo sob um ponto de vista esotérico, no caso o pitagórico, que iriam exercer uma enorme influência tanto na filosofia quanto nas artes do renascimento.

Nenhum comentário: